19.6.10

. José Saramago .

Quando alguém como Saramago vai embora, o mundo fica mais triste e o céu ganha uma estrela!
Assim, como numa fuga, absorvo melhor a morte dos amigos queridos. E Saramago é um deles, pela sua militância radical e serena; pela presença constante entre meus livros preferidos, o que me faz acreditar que o poeta, o artista, vive para sempre, se eterniza em suas obras.

Narrando a conjuntura do nascimento de Jesus, belíssimo texto do "Evangelho segundo Jesus Cristo", livro que lhe custou exílio voluntário na Espanha:

"Então o carpinteiro encheu-se de coragem e em voz alta perguntou se naquela casa ou nouta, Se me estão a ouvir, se alguém quereria, em nome do Deus que tudo vê, dar guarida a sua mulher, que está para ter um filho, decerto haverá por aí um canto recolhido, que esteiras trazia-as ele, E também onde é que poderei encontrar nesta aldeia uma aparadeira para ajudar ao parto, o pobre José dizia envergonhado estas coisas enormes e íntimas, ainda com mais vergonha por sentir-se corar ao dizê-las.

(...) Com todo este ir e vir, este andar e estar parado, este pedir e perguntar, foi desmaiando o forte azul do céu, e o sol não tarda que se esconda por trás daquele monte."

Em seu blog, a última postagem:
"Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método e reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte nenhuma."