8.10.10

. as pedras falarão .

Perplexa, paralizada pelos últimos acontecimentos que levaram as eleições presidenciais ao segundo turno, mesmo sem a distância necessária para análise, não posso deixar de compartilhar neste blog meu estado de espírito.

O objeto de minha perplexidade, longe de ser a realização do segundo turno, que é legítimo e democrático, parece ser os motivos, as condições que estão postas.

Na semana das eleições, percebi nas minhas andanças, um certo sarcasmo em relação aos avanços sociais conquistados no governo Lula: ouvi, de pessoas que prezo, considerações do tipo:
"antes, a escola particular era frequentada só por alunos selecionados; hoje com o Lula, qualquer um pode estudar com o meu filho."
"os planos de saúde eram vendidos só para as famílias, hoje qualquer empresa tem plano, que atende o pai, a mãe, a empregada, o papagaio e o cachorro; por isso o atendimento para nós piorou muito".

Representante legítima da teologia da libertação dos anos setenta, onde Marx e Engels se faziam livros de cabeceira, nem a queda do muro de Berlim "mexeu" tanto comigo como esta "luta de classes fajuta", bem ao estilo emergente a que estamos assistindo.

Como se tudo isso não bastasse, vem à tona um certo "fundamentalismo" também fajuto, de setores católicos e evangélicos, propagando a degradação da sociedade com "casamentos gays" e a discriminalização do aborto, uma verdadeira teoria do "medo", reinventada por movimentos ultra conservadores.

Protagonista dos movimentos sociais na busca radical pelos direitos básicos para todos dentro do PT e da Igreja, estou vendo esgarçar uma utopia de décadas, em que tínhamos o sonho de viver no país mais justo e igual construído nos útimos oito anos de governo Lula, com todas as suas contradições e desafios.

Neste momento me vem à cabeça que democracia dá trabalho, que toda esta discussão pode ser saudável na construção do nosso pensamento e que muita criatividade vem por aí...

Alento na canção popular: "é que Narciso acha feio o que não é espelho; e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho..."