. Crise? .
Meu nome é crise
Escrito por Frei Betto
14-Nov-2008
Há tempos não se falava tanto de mim como agora. Tudo por causa de uma crise no sistema financeiro. A África anda, também há tempos, em crise crônica – de democracia, de alimentos, de recursos; quem fala disso?
Existe ameaça de crise do petróleo; governantes e empresários parecem em pânico frente à possibilidade de não poder alimentar 800 milhões de veículos automotores que rodam sobre a face da Terra.
No último ano, devido ao aumento do preço dos alimentos, o número de famintos crônicos subiu de 840 milhões para 950 milhões, segundo a FAO. Mas quem se preocupa em alimentar miseráveis?
Meu nome deriva do grego krísis, discernir, escolher, distinguir, enfim, ter olhos críticos. Trago também familiaridade com o verbo acrisolar, purificar. Ao contrário do que supõe o senso comum, não sou, em si, negativa. Faço parte da evolução da natureza.
Houve uma crise cósmica quando uma velha estrela, paradoxalmente chamada supernova, explodiu há 5 bilhões de anos; seus cacos, arremessados pelo espaço, deram origem ao sistema solar. O Sol é um pedaço de supernova dotado de calor próprio. A Terra e os demais planetas, cacos incandescentes que, aos poucos, se resfriaram. Daqui 5 bilhões de anos o Sol, agonizante, também verá sua obesidade dilatada até se esfacelar nos abismos siderais.
Todos nós, leitores, passamos pela crise da puberdade. Doeu ver-nos expulsos do reino da fantasia, a infância, para abraçar o da realidade! Nem todos, entretanto, fazem essa travessia sem riscos. Há adolescentes de tal modo submersos na fantasia que, frente aos indícios da idade adulta, que consiste em encarar a realidade, preferem se refugiar nas drogas. E há adultos que, desprovidos do senso de ridículo, vivem em crise de adolescência.
Resulto da contradição inerente aos seres humanos. Não há quem não traga em si o seu oposto. Quantas vezes, no trânsito, o mais amável cidadão arremessa o carro sobre a faixa de pedestres? A gentil donzela enfia a mão na buzina? O aplicado estudante acelera além da conveniência?! Não é fácil conciliar o modo de pensar com o modo de agir.
Estou muito presente nas relações conjugais desprovidas de valores arraigados. Sobretudo quando a nudez de corpos não traduz a de espíritos e o não-dito prevalece sobre o dito. Felizmente muitos casais conseguem me superar através do diálogo, da terapia, da descoberta de que o amor é um exercício cotidiano de doação recíproca. O príncipe e a fada encantados habitam o ilusório castelo da imaginação.
Agora, assusto o cassino global da especulação financeira. Acreditou-se que o capitalismo fosse inabalável, sobretudo em sua versão neoliberal religiosamente apoiada em dogmas de fé: o livre mercado, a mão invisível, a capacidade de auto-regulação, a privatização do patrimônio público etc.
Dezenove anos após fazer estremecer o socialismo europeu, eis-me aqui a gerar inquietação ao mercado. A lógica do bem-estar não lida com o imprevisto, o fracasso, o inusitado, essas coisas que decorrem de minha presença. Os governantes se apressam em tentar acalmar os ânimos como a tripulação do Titanic: enquanto a água inundava a quilha, ordenou à orquestra prosseguir a música.
Tenho duas faces. Uma, traz às minhas vítimas desespero, medo, inquietação. Atinge aquelas pessoas que não acreditavam em minha existência ou me encaravam como se eu fosse uma bruxa – figura mitológica do passado que já não representa nenhuma ameaça.
Minha outra face, a positiva, é a que a águia conhece aos 40 anos: as penas estão velhas, as garras desgastadas, o bico trincado. Então ela se isola durante 150 dias e arranca as penas, as garras, e quebra o bico. Espera, pacientemente, a renovação. Em seguida, voa saudável rumo a mais 30 anos de vida.
Sou presença freqüente na experiência da fé. Muitos, ao passar de uma fé infantil à adulta, confundem o desmoronar da primeira com a inexistência da segunda; tornam-se ateus, indiferentes ou agnósticos. Não fazem a passagem do Deus "lá em cima" para o Deus "aqui dentro" do coração. Associam fé à culpa e não ao amor.
Acredito que este abalo na especulação financeira trará novos paradigmas à humanidade: menos consumismo e mais modéstia no padrão de vida; menos competição e mais solidariedade entre pessoas e empreendimentos; menos obsessão por dinheiro e mais por qualidade de vida.
Todas as vezes que irrompo na história ou na vida das pessoas, trago um recado: é hora de começar de novo. Quem puder entender, entenda.
Frei Betto é escritor, autor de "Cartas da Prisão" (Agir), entre outros livros.
. Feliz Ano Novo!!! .
***Prece Irlandesa***
Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente em suas costas,
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caia de mansinho em seus campos,
E, até que nos encontremos, de novo...
Que Deus lhe guarde nas palmas de suas mãos!
. Como é bom! .
Relendo as crônicas do portalitapeva, peço licença à Juliana, minha querida amiga, para registrar neste espaço suas palavras escritas em fevereiro de 2007, pelas quais sou muito grata!
Atrás da Arte
Com um fim de semana com cheiro de arte por toda parte, não há o que fazer senão relaxar e... isso mesmo. Adoro, admiro, almejo a intelectualidade. Quando menina queria mais ser inteligente do que bonita. Na verdade a beleza física eu já tinha descartado, já que se tratava de uma tarefa muito difícil, considerando que sem os recursos oferecidos pela natureza, teria de me esforçar muito. Mas achava que se estivesse sempre perto de gente inteligente... talvez pudesse ser inteligente também. E pensando bem, ser inteligente era mais legal do que ser bonita, mesmo porque todas as minhas amigas bonitas eram muito chatas e cansativas. Interessante que hoje, 20 anos depois, elas não são mais chatas. Mas também não são mais tão bonitas... Bem. E lá era eu na biblioteca do Otávio, emprestando os mesmos livros que o meu colega João, filho da Setembrina. O João era uma espécie de mestre para mim. Ele conhecia todos os poemas, todos os teoremas, falava de autores russos, portugueses, ingleses. Conhecia a história das artes de todos os tempos. E os filmes... ele explicava que o cinema não se limitava a Hollywood. E eu ali, com o conhecimento até então restrito à minha coleção de gibis do Tio Patinhas. Nas aulas do Geraldo eu era uma das mais assíduas. Era bom porque além da língua portuguesa, dava para descobrir coisas da história do Brasil e do mundo. Aliás, o Geraldo merecia ganhar de dois a três salários extras, porque com seus filmes, músicas e poesias ele ensinava mais do que os professores de história ou literatura. Puxa, que saudade das aulas do Gegê. E era eu também lá na biblioteca, com o Miguel Andrade, pensando em editar um jornal da escola. Um jornal polêmico, onde escreveríamos as verdades todas. Mas isso, é claro, nos traria problemas... Certamente com a professora de matemática (Ui!). E o nosso grito de liberdade ficaria para bem mais tarde, quando nos reencontramos e recentemente trabalhamos juntos aqui, na Folha do Sul. Tentei muito. Li tudo, conversei com todas as pessoas e felizmente consegui enxergar um pouco além desse horizonte mesquinho que a sociedade não nos cansa de apresentar. A vida aconteceu para todos nós, mas já entendi que nunca serei um desses seres intelectuais iluminados, que nascem mesmo com uma estrela a mais e um conhecimento que – sei não – desconfio que vem do além. Talvez meu forte seja mesmo o bom humor, que chega através de um intenso carinho que sinto pelas pessoas, pela vida e por essa coisarada toda que está ao nosso redor. E é desse jeito assim, bem feliz, que pretendo saborear cada minuto desse festival de cinema. Festival que a nossa secretária de Cultura Setembrina – a mãe do João – graças ao empenho do iluminadíssimo Rafael Primo, promove na cidade. Cidade que, assim como eu, ainda tem um caminho longo a percorrer para chegar lá. Mas tenho fé. E acho mesmo que a gente já começou a caminhar.
. A Cura das Atitudes .
Os doze princípios para a cura das atitudes:
1. A essência do nosso ser é amor.
2. Saúde é paz interior. Curar é abandonar o medo.
3. Dar e receber são a mesma coisa.
4. Podemos nos desprender do passado e do futuro.
5. O agora é o único tempo que existe, e cada instante é para nos doarmos.
6. Podemos aprender a amar a nós mesmos e aos outros perdoando, em vez de julgando.
7. Podemos nos transformar em pessoas que veem o amor e o que une, em lugar de pessoas que veem o erro e o que desune.
8. Podemos escolher nos direcionar para a paz interior, independente do que está acontecento no exterior.
9. Somos alunos e professores uns dos outros.
10. Podemos nos concentrar na totalidade da vida e não nos seus fragmentos.
11. Sendo o amor eterno, não existe razão para temer a dor e a morte.
12. Podemos sempre ver a nós mesmos e aos outros como seres que ou oferecem amor ou suplicam ajuda.
(Centro para a cura das atitudes)
. Novembro .
Novembro foi embora e não posso deixar de registrar neste diário eletrônico as lições que ele nos deixou. Passamos pelo dia de todos os santos e pelo dia de finados, a nos lembrar a transitoriedade em que estamos inseridos, que vida e morte são complementares, duas faces da mesma moeda (de quantas mortes é feita uma vida?) e que, por isso mesmo, somos convidados a ser santos, a fazer tudo o que tem que ser feito de forma sagrada, somos convidados a deixar este planeta melhor do que encontramos, já que transitoriedade e eternidade também se completam.
Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida!!! (Cazuza)
No dia 16 fizemos 34 anos de casamento, um projeto eterno de duas pessoas que acreditaram naquelas palavras da benção nupcial, que pede para nos inspirarmos no exemplo das santas mulheres e aos homens diz para amar suas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Pede também que a porta da nossa casa esteja aberta a todos os pobres e desvalidos. Ainda ouço as promessas para aquele "sim"-vocês terão a benção dos filhos, o apoio dos amigos e a paz. E após uma vida longa e feliz vocês estarão entre os santos e santas do céu.
P.S. Agradecemos aos nossos filhos pela generosidade, alegria e pela paz que vocês exalam em suas atitudes, trazendo leveza ao nosso dia a dia. "Perdoem a falta de abraço."
Na postagem anterior, citei o economista americano Joseph Stiglitz, que admiro pela sua postura corajosa sobre a exclusão social embutida no sistema capitalista, motivo que o levou ao Prêmio Nobel em 2001. Em 1998 e 99 ele não titubeou em dizer: -"Perdemos a guerra contra a pobreza" e apresentou ao mundo propostas de políticas compensatórias para tirar as crianças dos lixões.
Hoje ele diz que o modelo econômico vigente não convence mais e é preciso repensar a política econômica baseada no capital, em detrimento da produção.